O tempo aparentemente nublado já tinha saído da minha porta e o sol já reluzia. Estava eu completamente ligado no meu serviço, de olhos voltados completamente para aquela planilha do Excel, quando aquele som nada agradável toca. Meus olhos que ainda se recusavam em ficar abertos voltaram-se para a pequena tela que mostrava aquele portão da entrada principal. Nada eu vi até então, logo decidi voltar ao serviço. Novamente o som que os meus ouvidos não queriam ouvir de maneira alguma veio a mim. Novamente olhei para a câmera e não vi nenhuma pessoa pelo lado de fora, pensei que fosse uma brincadeira de alguém então me dirigi ao portão para ver o que estava acontecendo. Abri o portão e por trás dele tive uma pequena surpresa, lá estava uma menina, aparentemente não mais do que 8 anos, de olhos azuis, pele morena, cabelo despenteado e pés no chão.
A menina olhava pra mim como se eu fosse um homem assustador, porém o meu tamanho comparado com o dela não é tão estranho assim vê-la assustada. Nenhum som saia da sua boa, e eu nem mesmo sabia o que perguntar para ela. O olhar voltou-se para uma goiabeira que fazia parte do quintal, foi então que eu perguntei se ela apenas queria pegar aquelas frutas que estavam do lado de fora do cercado, com uma resposta rápida ela disse somente que sim. Mesmo se eu quisesse não teria como ajudá-la, pois estava completamente atarefado naquele momento, não a vi partir. Mesmo eu não querendo acreditar, pouco tempo depois lá estava ela novamente tocando aquele interfone. Dessa vez não pude descer para atender ela. Desceu então uma moça responsável pela limpeza do prédio, e colocou-a para dentro.
Havia algo diferente no seu semblante, e em suas mãos também, nelas estava um pequeno vasilhame.
Conversas vão e vem, o tempo passa e logo percebemos que o único motivo da sua inquietante visita ao prédio era somente atrás de um bem substancial para nossas vidas, que era alguma forma de alimento. Ouvia então ela dizer tantas coisas que me faziam lembrar de momentos que passamos por diversas pessoas e as ignoramos por conta da nossa rotina complexa, falta de tempo, e acabamos deixamo-las do jeito que estão, pois no fundo não damos importância a situação dos outros.
São momentos assim, raros, que me fazem pensar no quanto eu poderia ajudar pessoas, mudar algumas situações, combater a fome, a precariedade, de certa forma ajudar mais o mundo em si.
Sei que qualquer forma de ajuda convém, penso que devemos nos preocupar um pouco a mais com o nosso próximo, pois quando o nosso quintal está arejado e tudo está bem em nossa casa, esquecemos que existem muitas pessoas no derredor do nosso mundo.
O que eu faço é uma gota no meio de um oceano, mas sem ela o oceano será menor.
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